segunda-feira, 30 de março de 2020

De poetas e outros malditos [Vênus sobre Algol - 30 e 31 de Março de 2020]



Algol, a cabeça da medusa, é uma estrela de péssima fama: tem um gosto por tirar as cabeças dos pescoços, literal ou metaforicamente. Algol projeta seu poder sobre o grau 26º25' de Touro, ou seja, o fim de Touro é um lugar assombrado.

Hoje e amanhã temos um trânsito de Vênus sobre essa estrela. Vênus que é um planeta benéfico e domiciliado (já que o Touro bento dos céus é sua casa); Vênus, deusa do amor e da beleza. É pelos efeitos de Vênus então que "perdemos a cabeça". O amor pode levar à loucura - quando cede à tentação de petrificar a pessoa amada. Amor e controle não andam juntos, o controle sufoca o amor, é o oposto do amor. Por isso só existe amor livre, o resto é ficção.

Mas todo desejo de controle parte, em primeiro lugar, do controle que exerço contra mim mesmo. Abafado sob o ruído da cidade há um esgoto - onde só psicanalistas e artistas, esses malditos, costumam ousar entrar. Ali proliferam monstros, a raiva, o medo e o choro que eu tive de controlar, pra ser um bom menino, pra manter o amor dos pais, pra sobreviver. A criança só faz a escolha dramática de se acorrentar ao jogo de poder dos pais pois luta por sua própria vida. E daquilo que ficou sufocado, nasce um monstro. Cada dia é uma luta pra decapitar esse monstro, escudo firme em mãos - mas sem jamais ousar olhá-lo nos olhos...

Monstros somos, e não vamos deixar de ser - para além do bem e do mal. Há algo de estranhamente tentador em um monstro. O fascínio pela Medusa atesta isso. Há também algo de sexy e de monstruoso em alguém que é senhor de sua capacidade de controlar, e não escravo dela. Os grandes e pequenos déspotas são escravos do controle. Mas, para mais além deles, há os malditos...

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Iago Pereira

Imagem: Franz von Stuck, "Medusa" - 1892

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quarta-feira, 25 de março de 2020

A cidade quer arder [nota astrológica - 24 e 25 de Março de 2020]



Terça: lunação. Sol e Lua tchuns em Áries, e do tcham nasce mais um mês da Lua, mês de fogo. Quarta: Lua em Áries, fast and furious. Marte, dono da casa, no grau máximo de sua exaltação. O Deus do ferro e fornalha, vulcão do céu, no lugar onde em todo o zodíaco ele fica mais assim, MAIS. Clima de Mete a Faca Nesse Fudido. A Lua ainda quadra um Júpiter em queda, um aspecto ótimo pros excessos. A cidade quer arder, deve ser por isso que tem gente rompendo isolamento, voltando pra rua hoje. Meu vizinho: "é igual uma gripe... a China já aprendeu a conviver..." A verdade é: burrice mata. A noite, a Lua quadra Marte. Noite de treta. Disse a Maíra: "deixemos pra arder por dentro".

De quinta a sábado Lua em Touro, mas vou falar disso só amanhã, porque vai ser outro tempo.

Iago Pereira

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Imagem: David Lynch, "Boy Lights Fire"

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Eu disse que esse dia ia chegar [Saturno em Aquário - de 24 de Março a 2 de Julho de 2020]



Saturno entrou em Aquário, mas é só uma palhinha, porque em um par de meses ele volta a Capricórnio, aonde passa o resto do ano. Saturno tem seu domicílio em Aquário: isso quer dizer que as coisas de Saturno ficam mais fortes quando ele passa lá. E também se tornam mais úteis. Saturno governa os limites, a solidez, a duração, o opaco, a dúvida, o mistério, a morte. Em Capricórnio, seu domicílio noturno, ele mostra o lado mais denso; o peso da realidade; Saturno odeia as coisas frágeis, e como Capricórnio é um signo de terra, são as estruturas materiais que ele testa quando de seu trânsito no signo da cabra-peixe. Mas em Aquário, signo fixo do ar, ele mostra sua cara mais amigável: o mistério aqui veste máscara, o labirinto é social, a dúvida é o fundamento da ciência, a morte é a morte dos reis. Aquário é o oposto da casa do Sol, que é o centro; sua força está nas margens. Aquário é um signo de ar - sua força é mental. O rei luta como um Leão, com suas garras; o Aguadeiro controla as correntes, faz os diques que servem água a cidades - ou a removem.

Agora, no fim do ano, vamos viver uma transição enorme - o fim de um ciclo de 200 anos. Saturno e Júpiter, os planetas mais lentos, vinham se encontrando em signos de terra desde o século XIX (e tivemos filosofias como o positivismo e o materialismo histórico, além de uma imensa acumulação de riqueza pelos poderosos) - mas em dezembro Júpiter e Saturno vão se encontrar em Aquário, signo de ar. E a partir de agora os encontros serão só em signos de ar por cerca de 200 anos. Não é só o Corona que muda tudo, mas começa por ele: as bolsas estão despencando. Os super-ricos tinham sugado tanto do resto de nós que não sobrou estrutura pra acomodar mais um baque, e o mundo se desfaz em dominó. O que vai surgir do outro lado vai ser um outro tipo de poder, um poder aspirado pra margem - poder algorítimico, poder blockchain. (E podem saber, o acesso a recursos hídricos será o foco de nossa atenção nas décadas de 20 e 30).

Saturno em Aquário agora nos dá essa palhinha então, do que vem lá. E curioso, foi só o grande maléfico chegar perto de seu domicílio diurno, de Aquário - signo onde dizem que ele tem sua alegria! - que se instala de forma generalizada o isolamento social. Saturno ama construir barreiras. Saturno em Aquário arrastou a sociedade para o digital, desmaterializou as presenças nas ruas. Em nossas vidas, somos chamados ao mesmo tipo de transição. Chegou a pandemia e mudou a rotina toda - os encontros, os trajetos, os trejeitos - o que sobra de nós? Precisamos nos suspender pelos fios do cabelo. Você consegue viver em suspenso? Suas idéias são fortes o suficiente pra segurar sua cabeça - enquanto o chão desaparece debaixo dos pés? Aquário é a conquista do espaço, a gravidade zero. "Space is the place" (Sun Ra). O planeta mais denso se tornou tão leve quanto o ar. "Fomos aspirados, multiplicados". Dois meses de teste, dois meses de treino, pros 20 anos que agora vão vir. Ready, go!

Iago Pereira

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Imagem: Louise Bourgeois, "He Disappeared into Complete Silence" - 1947

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terça-feira, 17 de março de 2020

Separação e União [Céu da semana - de 15 a 21 de Março de 2020]



Semaninha movimentada, nos céus e na terra. Vamos por partes.

Lua em Capricórnio de segunda até quarta a noite. Capricórnio está uma bagunça, temos os dois maléficos lá governando juntos a casa, temos o Nodo sul deixando tudo instável, temos Júpiter em queda e sitiado entre os maléficos - o comum, o bem comum - e também os pulmões! - entre a "foice e a espada". Penso na situação do Brasil, onde a maioria da população já vive no limite, em situação de informalidade, e agora podem ser forçados a ficar em casa. O Rio já declarou medidas de cerceamento, em breve vamos ver também toque de recolher e talvez até quarentena forçada estilo Itália. Como vai ser pros ambulantes que tiram o pão do dia da rua? Dos artistas que vivem de espetáculos? Etc... As bolsas mundiais, aliás, estão em frangalhos, e as consequências disso vão reverberar pelos próximos meses, mesmo passado o Coronga. Então tem bastante gente em pânico, e não sem razão, e tem um tanto outro de gente determinado a não encarar a boca da fera, em fingir que não tem nada acontecendo. Ambos são péssimas opções. Querendo ou não ainda temos um Saturno e Marte em dignidade, que podem nos ensinar o sangue frio e o estoicismo. Não adianta ter medo do que não podemos controlar. Então lave sua mão, tome seus cuidados, se puder ficar em casa fique. Não tem porque correr pra comprar comida já que não há razões pra suspeitar que o suprimento será interrompido; deixe as máscaras pros profissionais de saúde e grupos de risco, ou improvise as suas; etc. Acima de tudo responsa! Aja como adulto! Se informe direito! (E em suspeita de corona, não tome ibuprofeno). É a gente que tem de segurar as pontas nessa hora, não tem ninguém pra correr não! Esse é o recado de Saturno e Marte.

segunda-feira, 9 de março de 2020

Desembolo [Céu da semana - 8 a 15 de Março de 2020]


Lua cheia hoje em Virgem, opondo-se ao Sol em Peixes. Tarefas, tarefas, tarefas everywhere, mas o Sol ainda não acordou, e Mercúrio que governa Virgem está parado em Aquário.

Mercúrio estacionou e de segunda pra terça inverte de sentido, volta a andar pra frente, é o fim dessa fase retrógada que cobrou seu preço (inclusive assassinou a placa-mãe do meu computador). Mas se uma hora vai, essa hora é agora, com Mercúrio em Aquário; ponha as idéias no lugar, os pingos nos i, os pontos finais; porque vem pela frente mais um mês de Mercúrio em Peixes, onde Mercúrio nada...

terça-feira, 3 de março de 2020

Botando as peças no lugar [Céu da semana - 2 a 8 de Março de 2020]


Hoje Vênus em Áries vence a quadratura de Saturno. O planeta benéfico que rege o amor e a arte vinha sendo sufocado tanto por sua própria fraqueza - afinal Vênus fica exílada no signo de Áries - quanto pelo peso de Saturno: a desconfiança, a mágoa, o luto, e a necessidade de criar cascas. Áries é um signo governado por Marte, o planeta da guerra, fogo e ferro, significações opostas as de Vênus. Por isso dizemos que Vênus tem seu exílio em Áries; ali onde conquistadores se sucedem na arena para ostentar mulheres como troféus; ali onde artistas são varridos pras margens e os fuzis são adorados como a única beleza possível. E ali também onde a arte lembra que é um tipo de arma, um tipo de poder político; capaz de conquista; um lugar onde o macio pode dobrar o duro, o sutil silenciar o grosseiro. Eis que da quarta pra quinta Vênus chega finalmente a Touro, seu próprio domicílio. Vênus sempre passa em Áries antes de chegar a Touro, como que para lembrá-la de quem verdadeiramente é, em um teste de fogo. Um homem só pode se fazer robô de guerra a custo de deixar um calcanhar exposto; não há vida sem um tiquinho de sensibilidade que seja, não somos afinal robôs (e eu falo isso sabendo que, em tempos de Marte e Saturno em Capricórnio, fica difícil acreditar em minhas palavras, eu mesmo luto pra não esquecer isso). Pois Vênus chega a própria casa novamente, aonde estará no ingresso solar em Áries - que nos espera dia 20 de Março. Vênus jubilada e domiciliada irá embalar nosso último ano desse ciclo de 200 anos que se encerra, e pra quem ainda tem a pele sensível - o ciclo já terminou, e é hora de convidar a alma sonolenta da humanidade pra essa travessia em uma ponte invisível, do ciclo da terra ao ciclo do ar, onde as certezas desaparecem e castelos são erguidos nas nuvens.