sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

Entre o sujeito e o objeto



A condição humana, por René Magritte

Nesse texto quero defender dois pontos. O primeiro é de que não podemos prescindir de erigir uma metafísica, conscientemente ou não, para poder elaborar qualquer pensamento. A segunda é de que só temos a ganhar caso a gente reconheça essa situação, e assuma o controle dela. O que está em jogo são os limites de nossa percepção do universo; algo que interessa aqueles que buscam as terras virgens que se estendem pra fora do consenso - por qualquer meio que seja: nas ciências, nas artes, na filosofia, na política, etc.
É muito comum que pessoas refiram a si mesmas como céticas, ou como científicas, e com isso pretendam o acesso exclusivo à verdade. Com grande frequência, esse ceticismo ou essa cientificidade não é caracterizado pela paciência observacional pra se chegar as conclusões: é apenas um atalho para o pensamento poder quietar-se e erigir sua casinha em algum lugar. O que quero dizer é que essas pessoas não são céticas no sentido de se colocarem a parte de suas próprias expectativas, e das dos outros, e observarem o que acontece no mundo - para aí elaborar um plano de interpretação e consequentemente de ação. Os pseudo-céticos ou pseudo-científicos defendem, de forma análoga às religiões, uma série específica de modelos ou visões de mundo como se fossem crenças - resultando em comportamentos dualista do tipo nós x eles similares a qualquer torcida de futebol.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Reciclo, logo existo

Aqui em casa a gente arranjou um esquema com um dono de um sacolão próximo pra reaproveitar à vontade os dejetos de frutas e legumes do sacolão, duas vezes por semana, em troca de varrer a área onde eles são armazenados e colocá-los pra fora à tempo da coleta de lixo. Essa prática, que a gente costuma chamar de "recicle", foi de longe a descoberta que mais me mindfuckeou esse ano.

Todo dia quantidades colossais de alimento que poderiam perfeitamente ser consumidos são jogadas fora por questões estéticas, por estarem com uma partezinha estragada, ou, com uma frequência surpreendente, por nenhum motivo que eu consiga imaginar. A gente pega comida suficiente pra alimentar por três dias uma casa com algo entre dez e quinze pessoas, enxendo um carrinho de supermercado até o talo; no processo, deixamos pra trás praticamente METADE das frutas e legumes que poderíamos reaproveitar, simplesmente porque não conseguiríamos consumí-las antes de estragarem.


Na verdade, o que é jogado fora nesses sacolões não é nada perto do que se desperdiça antes - nas grandes distribuidoras, tipo CEASA¹. E isso porque antes de chegar lá um monte de rango foi jogado fora nas próprias fazendas e no processo de transporte. Ou seja, o recicle do sacolão cobre apenas a pontinha da pontinha do desperdício, a pontinha mais próxima do consumidor final.

O peso no bolso

Semana passada eu perdi o recicle - todo mundo viajando, com a família, sabe como é - e por isso hoje fui forçado a ir comprar frutas. Acho que em 2010 eu fiz isso uma ou duas vezes no máximo, e em pequenas quantidades. E no processo de compra, eu tenho de novo a percepção do quanto eu economizo com essa bagaça de reciclagem! Duas bananas, três tomatinhos, duas cebolas, duas laranjas: R$ 4,10. Tá certo que comprei em um lugar particularmente caro, mas ainda assim. Duas vezes por semana a gente traz, aqui pra casa, pelo menos 20 tomates, 40 bananas, 15 laranjas, mais uma tonelada de batata, limão, abobrinha, berinjela, xuxu e jiló (tem quem goste), repolho e inhame, batata doce e abacaxi, goiaba e maçã e pera e até fucking morangos, uvas e kiwi (sem zoeira! mas ISSO não é sempre). Se eu fosse comprar esse hortifruti todo não saía meeesmo menos de 40R$, isso sendo conservador. Duas vezes por semana, quatro vezes por mês, deixa eu ver: no mínimo 320R$.