sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

O Amor é um Labirinto [Vênus em Capricórnio de 5 de Novembro de 2021 a 5 de Março de 2022]

 


Vênus se prepara para retrogradar em Capricórnio, onde vai render... Um total de 4 meses! Capricórnio é um signo de terra governado por Saturno, senhor das restrições; um lugar denso, e no entanto de qualidade cardinal, ou seja, de movimentos bruscos e decisivos. A cabra-peixe de Capricórnio gosta de escalar morros, apoiada numa verticalidade impossível para comer aquele matinho desprezado que brota do despenhadeiro.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Antifrágil [Marte em Libra - de 15 de Setembro a 20 de Outubro de 2021]


Viralizou uma postagem (do twitter/tumblr likeappletrees) contrastando a versão mitológica de Ares, o Deus grego da guerra, com o retrato misógino feito dele na mídia moderna. O Ares dos mitos é patrono das amazonas, ajuda a fundadora das amazonas a fugir de seu marido abusivo; encoraja o aspecto guerreiro de Afrodite, presenteia fartamente seus filhos de ambos os gêneros, etc, a ponto de ter como seus epítetos - "festejado pelas mulheres".

Se o assunto for, contudo, o Ares dos astrólogos, também chamado de Marte, tudo vai depender das condições de Marte no céu. Marte presentemente está em Libra, o que alguns consideram seu "exílio", um enfraquecimento - mas essa idéia não existia na astrologia em sua raiz helenística. Libra não é realmente o lugar favorito de Marte, uma vez que é um signo de ar, com os quais Marte não é muito afim; ele prefere as forças primais da água ou do fogo do que ter de *gasp* conversar. Por outro lado, é um signo de Vênus, uma companheira de seita; o que quer dizer que tanto ele quanto Vênus pertencem ao "team noite" dos céus, e portanto, trabalham para um mesmo "partido", o partido da Lua. Vênus, aliás, está em Escorpião, a casa de Marte; embora eles não se enxerguem, estando em casas lado a lado, eles levam um ao outro no peito, e trabalham por valores comuns. Parceria de Marte e de Vênus, planetas opostos em suas qualidades, mas que no entanto eram, mitologicamente, casados. Para Vênus, a oposição não é um problema, mas precisamente a solução; o contraste é uma fonte de fricção, energia, fogo, que pode ser usado pra agregar as pessoas, assim como pra separá-las; nada mais próximo do amor que o ódio. É nesse encontro caótico do fogo e da água que surge a energia capaz de gerar uma nova vida. Vênus, assim como Marte, se alegra com o caos; mas apenas porque se trata de um caos controlado, capaz de gerar uma nova ordem.

Já Marte... A ordem certamente o entedia. Mas por outro lado, ordem nenhuma se sustenta sem que a força de Marte venha lhe guardar as beiradas; mesmo as coisas de Vênus, seus banquetes e cartinhas de namorados e noites de núcpias, precisam ter seu espaço conquistado e forçosamente protegido frente às inúmeras outras questões do mundo. 

Marte, nos céus, se aproxima de um trígono com Saturno. A presente harmonia de Saturno e Marte não é apenas sobre sobreviver ao caos, mas também extrair potência dele. Existe um conceito que exprime essa idéia: "antifrágil". É antifrágil um sistema que não apenas resiste aos golpes, e sim se torna mais forte a partir deles. Para um sistema ser antifrágil ele não pode ser rígido ou lacrado; não pode apenas criar casca; mas é preciso sentir, diferenciar, perceber as coisas como são, e depois disso, incorporá-las em seu âmago. É preciso não ressentir os golpes levados, mas abraçá-los como os verdadeiros professores. Injunção terrível e no entanto talvez obrigatória para nós, que nascemos no fim de um mundo. E quando tudo descende ao caos, olhar o fogo e dizer: bendito seja, pois é com sua luz que enxergo, é com seu calor que resisto a noite, e é com suas chamas que eu aprendo a dançar.

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Iago Pereira

Imagem: Seeing Red (detalhe), 2014 - Kent Monkman

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quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Mercúrio em Virgem [11 a 29 de Agosto de 2021]


O Deus de sandálias aladas, Mercúrio, chegou ao seu signo favorito - o signo da mulher alada.

Em termos técnicos, dizemos que Mercúrio em Virgem está domiciliado e exaltado: aqui ele destrava todo seu poder, sem precisar dar volteios pelos caminhos dos outros planetas; aqui ele arregaça as mangas, alegremente, e se põe a consertar tudo que está quebrado, dar upgrade onde pode haver melhora e experimentar, experimentar! - pois o trabalho de Mercúrio é uma obra em aberto, sem pretensões de chegar a um fim. Quando (entediados) já exploramos os quatro cantos da terra, ele há de pensar foguetes pra nos levar ao espaço, ou crescer para dentro, levando a visão e o engenho até o mais mínimo átomo.

A humanidade tem muito de Mercurial, nós que nascemos pelados e dependemos de roupas, e da linguagem, e de casas fabricadas e incontáveis artifícios. As cidades, elas também são de Mercúrio - gigantescos chips de fazer dinheiro, gente-máquina zumbindo freneticamente, tubo de ensaio a misturar povos e culturas, dissolvendo antigos costumes e criando novos. Temos muito a agradecer a Mercúrio, embora claro, nesse fim de mundo onde estamos, tudo isso mostra seu cansaço também, e aqui lembramos que Mercúrio era visto por Ptolomeu como um planeta frio e seco, e portanto de certa forma, hostil à vida (essa coisa quente e úmida). Ainda assim, com o Deus em seu trono, a questão é meramente técnica: se são bilionários a subir aos céus, é porque as riquezas não estão a circular, não chegam às mãos que precisam; se as cidades sufocam a vida natural, é porque nossas cidades são ainda muito burras. Há também um ódio à inteligência em nossa vida moderna, e a inteligência de Mercúrio não é apenas o saber das ciências duras, mas também as perguntas dos filósofos e a poesia na palavra das crianças. Esse Deus é eterno menino, e não há rigidez em suas moradas (que são signos mutáveis).

Mercúrio se funde aos planetas com os quais se encontra, como dois metais a formarem uma liga. Presentemente está junto de Vênus e Marte, mas Vênus logo encontra seu rumo pra além de Virgem, e é com Marte que Mercúrio vai trocar na maioria desse trânsito. Mercúrio e Marte é a língua sendo usada como arma, para ferir ou para abrir caminho. Pra quem está travado frente a um obstáculo é chegada a hora de penetrar até o fundo da questão, desmontar seus componentes fundamentais e investir com força e precisão rumo a sua liberdade. Tomem cuidado com a crítica exacerbada e também com a mentira, a falsificação, que (sem moralismo!) as vezes é questão de sobrevivência, mas pode facilmente gerar mais problemas do que resolve. A força de Marte é a guerra, e a guerra é para casos extremos. Na guerra não se prospera; na guerra o nosso sono não é tranquilo.

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quarta-feira, 11 de agosto de 2021

Vida e Morte de Van Gogh (Parte I - Infância)


Vincent van Gogh se tornou, hoje em dia, o arquétipo do artista genial: desprezado em seu próprio tempo, inspirado e único em sua expressão artística e na mesma medida perturbado da cabeça.

Casos extremos são bons pra estudo astrológico, porque mostram seus temas de forma muito marcante; além disso, é muito bom estudar mapas de pessoas das quais podemos acessar uma biografia detalhada. Finalmente, é bom analisar mapas de pessoas famosas, pois assim a gente capta o interesse de leitores e alunos :) então, resolvi começar um estudo aprofundado do mapa de Van Gogh, começando aqui pela sua infância.



A família de Van Gogh é representada pelo regente da Casa 4, Vênus, que se encontra exaltada na Casa 9, uma casa ligada a temas de religião e sacerdócio. A exaltação significa status social e poder. Seu pai, Theodorus van Gogh, era pastor de uma igreja calvinista, e embora seu salário fosse modesto, a igreja conferia a ele uma casa com vários criados, carruagem e cavalos.

A profissão do pai (pastor) é indicada também por outro testemunho. O Lote do pai está em Leão, e - caso o horário natal não seja, em verdade, posterior às 11:00 registradas - recebe um trígono próximo (cerca de 3º) de Júpiter, planeta em cujas significações naturais consta o sacerdócio. O lote também recebe um trígono próximo de Mercúrio, mas este tem influência menor, uma vez que Mercúrio não tem senhorio algum sobre o grau do lote, enquanto Júpiter detêm algum senhorio por ser um dos governantes da triplicidade do fogo. Embora fosse respeitado, não era tido como um grande pregador, e costumava ser designado a pregar em cidades pequenas do interior - o que é coerente com a posição sucedente do Lote (na Casa 2) e a influência de Júpiter domiciliado, porém em casa fraca (Casa 6).

(O resto desse texto está disponível para o acesso público na página do meu apoia.se. O resto dessa série sobre o Van Gogh também vai estar aberta para todos. Quem curtir e quiser somar com uma moedinha, pode também acessar diversos outros textos, incluindo análise de mapas, estudo de técnicas, temas filosóficos em torno da astrologia, etc. Sejam bem vindes!)


sexta-feira, 30 de julho de 2021

A Parábola dos Gaps (Sol em Leão oposto a Saturno em Aquário)


Estou em um grupo de "sabiopostagem", onde a graça é pagar de profundo, meio de verdade, meio ironicamente. E as vezes não sabemos bem se é caso de um ou de outro. Um meme que vi hoje lá dizia: "Historiadores podem lhe dizer qual o dia em que pela primeira vez houve um avião no céu. Mas não sabem lhe dizer qual o último dia onde não havia avião algum no céu".

Para pra pensar. Faz bastante sentido: em algum momento após o primeiro vôo, é provável que o avião ficou no hangar, e em lugar nenhum do mundo haviam ainda aviões. Houve um belo dia desses que foi o último. Desde então, e até agora, sempre tem havido aviões no céu.

É fácil observar as coisas que são presentes; nem sempre é fácil observar as ausências. Fazemos a história dos eventos, mas há também uma outra história não contada, história de fundo das não-coisas e das rachaduras entre os eventos.

Nos próximos dias, o Sol se aproxima da oposição com Saturno. Em sua cola chega Mercúrio, e entre domingo e segunda, ambos passam pelo crivo duro de Saturno. Tanto o Sol quanto Saturno estão nas próprias casas, ou como dizemos em jargão astrológico, "domiciliados". Um planeta domiciliado tem tudo que precisa pra gerir seus assuntos. Um planeta domiciliado cumpre a sua função no todo, segundo sua natureza.

Como é possível, então, que estejam opostos? Se cada um está certo em seu próprio domínio, porque se chocam? - devo torcer pra quem? Sol e Saturno em signos fixos, rígidos. Não há planeta pra mediar a oposição; não há compromisso. "Mas então, quem é o mocinho?" - ah! Que obsessão temos com essa rígida dualidade! Mas respondendo: o mocinho é o Sol, é claro. Herói dourado, símbolo da vida, ser Uno que através de Mercúrio anuncia a verdade. "É desse lado que quero estar então". É verdade esse bilhete? Não há foco de luz que não projete, ele também, longas sombras.

Ah! Essa vontade de ir direto ao ponto, desenhar em linha reta, sem nunca vacilar, sem nunca hesitar, sem nunca sonhar. Leão, a casa do Sol, não é um signo humano. O Leão é a grande besta, e se ele governa, é porque está no topo da cadeia alimentar. Errar, como sabemos, é humano. Não é bonito; é humilhante dar com a cara na parede, se perder nas próprias sombras, adentrar o labirinto, trancar a porta e o peito, duvidar. O monoteísmo odeia a dúvida. Se Deus é uno, como é que podem haver várias fés? Elas só podem então ser armadilhas, ilusões criadas pelos espíritos que vivem debaixo da terra. Como são fundas as raízes que nos prendem ao chão - quanto sangue essa terra já não bebeu...

Dizem que os pés de Buda Shakyamuni não tocavam o chão. Mas pra nosso benefício, o Buda tinha antes nascido como várias gentes, como vários bichos, como todo tipo de ser pequeno e grande, nesse mundo e em outros. E de todas essas voltas no labirinto do Samsara extraiu uma palavra que explodiu no tempo como uma supernova: "anatta": a ausência de um Eu.

Este si-mesmo, esse centro que organiza nosso mundo, é em verdade uma ilusão tirânica que usurpa nossa vida. Não há, segundo o que entendo dos ensinamentos de Buda, uma alma realmente contínua, uma substância ou essência que salte de vida a vida. A passagem de uma vida à outra é como uma vela que é usada pra acender outra vela; o fogo da primeira não foi realmente transferido à segunda. É tudo vazio, tão insubstancial como o tecido de um sonho. E no entanto, tão focados estamos a observar o show de Mara, a ilusão, com suas inumeráveis formas que nos seduzem ou aterrorizam - que nos passa desapercebido este fato gritante. Não há, hoje mesmo, aviões a voar no céu...


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Iago Pereira

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segunda-feira, 26 de julho de 2021

Júpiter em Aquário outra vez - e a variante Delta

Na quarta-feira Júpiter volta a Aquário. Conforme venho dizendo, Júpiter são os pulmões; o Covid se espalhou a partir da conjunção de Júpiter e Saturno em Capricórnio, com os pulmões em queda e o domínio de Saturno.

Saturno está já há alguns anos nas próprias casas, Capricórnio (2018-2020) e Aquário (2021-2023). Saturno domiciliado vai fazer o que mais gosta: destruir tudo que é frágil - no caso, as pessoas idosas, imunocomprometidas ou portadoras de co-morbidades - mas também aqueles que não entram no jogo de Saturno e recusam-se a a adotar as medidas necessárias de contenção.

A chegada de Saturno em Aquário trouxe ao Brasil o isolamento e o primeiro pico da doença; sua retrogradação a Capricórnio mostrou algum alívio, mas em seguida, com o ingresso definitivo de Júpiter e Saturno em Aquário na virada de 2021, tivemos a segunda onda, muito mais mortífera, com a variante Gama - oriunda de Manaus.

Saturno se alegra em Aquário; seus temas se tornam motivo de alegria. Máscaras, isolamento, restrição (a alegria de sobreviver à doença); mas também os bilionários, e aqueles que repousam sobre a hierarquia social e sugam valor do trabalho alheio - também se alegraram, tendo ganhos recordes; e também os que vivem de acumular e reter (bancos). Nesse tempo, fracassam, novamente, aqueles que são frágeis - os pequenos comércios e os proletários. A alegria de Saturno raramente é a alegria da maioria de nós; quando o grande maléfico se alegra, há também sofrimento, sufocamento da vida e luto.

Conforme Júpiter se livrou de Saturno e entrou em Peixes, no mês de Maio deste ano, vimos a pandemia começar a arrefecer. As vacinas mostraram seu efeito; vários países ensaiaram reaberturas, tendo mais da metade da população 100% vacinada. Júpiter em Peixes, na própria casa, trouxe a alegria dos pulmões, e um sopro de esperança. Mas agora volta a Aquário, e uma variante extremamente mais transmissível vem se espalhando pelo mundo - a variante Delta, originária da Índia. Os países que estão reabertos já estão sofrendo um tranco, embora com um número proporcionalmente mais baixo de mortes; e os que não tem a população devidamente vacinada estão sendo devastados. O pior risco é que, com um novo round de infecções, tenhamos ainda novas variantes aparecendo, e na verdade isso é bem provável; a grande questão é termos a sorte de que as futuras variantes não consigam driblar significativamente as vacinas.

Eu de fato vim falando que essa passagem de Júpiter em Peixes traria algum alívio, mas que o fim da pandemia, mesmo, só deveria vir com a sua entrada definitiva em Peixes em janeiro de 2022. Talvez até além - Saturno ainda permance em Aquário até meados de 2023, embora com Júpiter liberado, e a vacinação atingindo a maioria da população, creio que será um novo capítulo, com diferenças marcantes em relação ao que vivemos de Júpiter aflito em 2020 e 2021.

Não existiam vacinas no período clássico da astrologia, então está aberto o debate a que planeta pertencem. A palavra vacina vem de "vaca", animais de natureza jupiteriana; vacinas tem uma ação protetora, enão tem algo de benéfico; empregam uma pequena dose de "mal" (como DNA viral, ou virus atenuados) para fins didáticos (Júpiter). Ao contrário das máscaras e do isolamento, que (psicologicamente) nos sufocam, enquanto protegem o corpo, as vacinas não cobram um preço significativo; seus efeitos adversos costumam ser leves e curtos, enquanto os efeitos benéficos são incontáveis vidas humanas salvas, e agora, a própria chance de reabertura.

Que 2022, com Júpiter em Peixes, traga a vitória definitiva das vacinas, o fim do isolamento e a alegria de viver, novamente, sob o céu aberto! E até lá, vacinados ou ainda por vacinar, mantenhamos a cautela, pois o tabuleiro ainda está nas mãos de Saturno.

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Iago Pereira

Imagem: John Craig

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segunda-feira, 5 de julho de 2021

OCEANO DE SOFRIMENTO (Lua com Algol e Vênus oposta a Saturno)


A Lua mingua, hoje a tarde, com Algol, a cabeça da Medusa. A cabeça decapitada pelo herói Perseu, coroada de serpentes, cujos olhos tornam pedra; uma cabeça monstruosa, o fruto da impiedade de uma sacerdotiza frente a sua Deusa. Fruto amargo e Saturnino, e que no entanto, era usado em escudos e armaduras como uma força protetora. A cabeça da medusa é carregada por Perseu, o herói lendário que salvou a princesa Andromeda, e terminou assim estampado no céu. Fitar o horror nos olhos pode nos petrificar. O horror é uma energia, como qualquer força natural. É preciso se tornar um tanto herói para manejá-lo; e no entanto, grandes feitos são possíveis quando lhe é dado um fim habilidoso. Não se enganem, ninguém sabe se é herói até de fato estar cara a cara com a Medusa. A contraparte disso é que talvez haja em você um herói em estágio de hibernação, aguardando por nascer.

A Lua míngua em Touro, já um fiapo de luz. No fim da tarde se liberta de Algol, mas segue os últimos graus de Touro assim, esvaziada em seu trono, vendo a luz sumir. A dona de Touro, Vênus, se aproxima há muitos dias da oposição com Saturno, num balé em câmera lenta. Vênus é a diversão, o amor, a doçura dos bombons, a vida fácil, o canto e riso. Saturno, implacável e retrógrado em sua própria casa, Aquário, não se flexibiliza, e esmaga tudo que for frágil. É preciso assumir a responsabilidade e fazer o que tem de ser feito. O que são os prazeres pra Saturno, ele que é o tempo, e trás a velhice, a doença, a fome e a morte? Os budistas falam de um "oceano de sofrimento", e por isso nos instruem a contemplar a impermanência, para que a gente não firme uma casa em areia movediça. Isso não quer dizer jogar fora seus bombons - apenas apreciá-los com a devida perspectiva . A doçura vem na boca, e ela passa. Depois dos dias quentes da juventude, vem os dias frios da longa idade. Cada estação tem o seu tempo e a doçura não vai deixar de existir, pra quem refinou o seu êxtase e descobriu uma minimalista festa do cotidiano:

"velho poço. Salta uma rã. Barulho de água." (Bashô)


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Iago Pereira

Imagem: Getsuju, detalhe de "Sapo e Rato", Séc. XVIII

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