segunda-feira, 5 de julho de 2021

OCEANO DE SOFRIMENTO (Lua com Algol e Vênus oposta a Saturno)


A Lua mingua, hoje a tarde, com Algol, a cabeça da Medusa. A cabeça decapitada pelo herói Perseu, coroada de serpentes, cujos olhos tornam pedra; uma cabeça monstruosa, o fruto da impiedade de uma sacerdotiza frente a sua Deusa. Fruto amargo e Saturnino, e que no entanto, era usado em escudos e armaduras como uma força protetora. A cabeça da medusa é carregada por Perseu, o herói lendário que salvou a princesa Andromeda, e terminou assim estampado no céu. Fitar o horror nos olhos pode nos petrificar. O horror é uma energia, como qualquer força natural. É preciso se tornar um tanto herói para manejá-lo; e no entanto, grandes feitos são possíveis quando lhe é dado um fim habilidoso. Não se enganem, ninguém sabe se é herói até de fato estar cara a cara com a Medusa. A contraparte disso é que talvez haja em você um herói em estágio de hibernação, aguardando por nascer.

A Lua míngua em Touro, já um fiapo de luz. No fim da tarde se liberta de Algol, mas segue os últimos graus de Touro assim, esvaziada em seu trono, vendo a luz sumir. A dona de Touro, Vênus, se aproxima há muitos dias da oposição com Saturno, num balé em câmera lenta. Vênus é a diversão, o amor, a doçura dos bombons, a vida fácil, o canto e riso. Saturno, implacável e retrógrado em sua própria casa, Aquário, não se flexibiliza, e esmaga tudo que for frágil. É preciso assumir a responsabilidade e fazer o que tem de ser feito. O que são os prazeres pra Saturno, ele que é o tempo, e trás a velhice, a doença, a fome e a morte? Os budistas falam de um "oceano de sofrimento", e por isso nos instruem a contemplar a impermanência, para que a gente não firme uma casa em areia movediça. Isso não quer dizer jogar fora seus bombons - apenas apreciá-los com a devida perspectiva . A doçura vem na boca, e ela passa. Depois dos dias quentes da juventude, vem os dias frios da longa idade. Cada estação tem o seu tempo e a doçura não vai deixar de existir, pra quem refinou o seu êxtase e descobriu uma minimalista festa do cotidiano:

"velho poço. Salta uma rã. Barulho de água." (Bashô)


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Iago Pereira

Imagem: Getsuju, detalhe de "Sapo e Rato", Séc. XVIII

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