sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Feitiçaria da Poeira II - Cai a Ficha


Este texto é uma tradução minha (não-oficial) de um artigo do Dr. Alexander Cummins chamado "Dirt Sorcery II - Penny Drops". Foi publicado originalmente no Gods and Radicals e aqui disponibilizado sob a gentil autorização do Dr. Cummins, que mantém também um tumblr contendo um enorme arquivo gratuito de scans de antigos grimórios



Rituais de “pagar” pela poeira [1] a princípio parecem terrivelmente incongruentes com a política da magia anti-capitalista. Devemos estampar a tudo com uma etiqueta de preço? Cada interação mediada pela promessa chata e repetitiva de dinheiro duro e frio, ou débito tenebroso de plástico? Mas há muitas formas bruxas de pensar sobre moedas e sujeira que precedem o capitalismo industrial, antes da usura atingir tamanhas proporções. As ferramentas do mestre certamente não derrubarão a casa do mestre enquanto seguirmos as instruções. Mas as moedas enquanto matéria podem se prestar à várias reapropriações deste poder opressor.

Basta de papo. Remova o suposto valor monetário da moeda da Águia Dourada, esse sentido estreito que alegam, e considere-a sob um ângulo novo. Peças de metal. Engaje o objeto e seu espírito em seus próprios termos, por sua própria história. De uma certa perspectiva - especificamente, uma que não isola a empreitada humana das ações do mundo natural - uma moeda cunhada e formada pode não ser tão diferente do belo ofício natural da geologia metamórfica. Por outro lado, talvez o Jardim esteja mesmo perdido pra sempre. Talvez essa feitiçaria monetária da sujeira seja um desejo em vão, mas também são os níqueis, especialmente nas mãos dos desesperados.

sexta-feira, 8 de julho de 2016

O Futuro da Magia


Quando adentrei na Magia, inicialmente sob o viés da Magia do Caos, ergui a bandeira da  técnica enquanto possível "língua franca" não-sectária entre as diferentes escolas espirituais. Acreditava que uma simples dose de  pragmatismo poderia resolver o barulho e incompreensão da dispersão de vozes, correntes e caminhos que é o Sagrado. Bastaria jogar mais duro com a razão, mudando o foco da conversa rumo à aquilo que pode ser observado: técnicas e resultados. Foi esse ponto de vista que me levou ao movimento online do Pragmatic Dharma, um grupo de blogs, websites e foruns de meditadores interessados em abordar o caminho espiritual sem os excessos dogmáticos da participação religiosa. O budismo Theravada (e sua cria o movimento vipassana) serviu de ponto de partida, sendo Theravada a mais "seca" e técnica das correntes do budismo - que é arguívelmente uma das mais secas religiões - e com "seca" quero dizer avessa a prestar concessões ao imaginário e intuição mítica populares (buscando livrar-se dos entretenimentos e consolações da neurose coletiva). Com o trabalho da dupla britânica do Baptist's Head, confluíram o Pragmatic Dharma e a Magia do Caos - e a noção de iluminação, que por milênios compôs o caroço das tradições espirituais, foi reinserida pela dupla britânica  no horizonte memético da Magia do Caos.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

O melhor momento para Magia Solar em 2016


Na sexta-feira desta semana, dia 8 de Abril, o Sol amanhece no grau máximo de exaltação em Áries (o 19º); por sua vez a Lua nesse mesmo dia atravessa o 3º grau de Touro, onde tem também o máximo de sua exaltação. Com os dois luminares assim bem posicionados, e isentos de aspectos difíceis, temos uma janela bastante propícia para magia planetária ligada ao Sol. Essa provavelmente é a melhor oportunidade deste ano para atrair as virtudes solares de Sucesso, Certeza, Nobreza, Saúde, Alegria e Transmutação espiritual. Ao deixar Áries o astro-rei retornará à dignidade só quando atingir o signo de Leão, em julho, o que no hemisfério sul ocorre apenas no inverno, estação inadequada pra cerimônias mágicas de maior monta (especialmente envolvendo o Sol).

O Sol é regente natural de todo ritual visando a Iluminação, além de prover as virtudes supracitadas. Já a Lua é crucial em qualquer trabalho mágico, pois governa a manifestação das correntes invisíveis do astral no plano da matéria. Por encontrarem-se ambos exaltados, estão como que transbordando de poder de clarear e manifestar. Este é o momento, em 2016, para carregar um talismã solar, travar contato com inteligências desta esfera, ou prestar-lhe uma visita astral. Quem não tem nenhum trabalho solar já em mente pode também aproveitar este portal através de um ato simbólico menor: por exemplo, acender uma vela amarela, na hora certa (ver abaixo), e recitar um hino a um Anjo ou Divindade de natureza solar, pedindo-lhe então as bençãos.

sábado, 12 de março de 2016

O GRANDE APRISIONADOR (parte I)

"Satan", por Kalmakoff
O psicanalista suíço Carl Gustav Jung, famoso por sua influência na espiritualidade do Sec. XX, afirma (em seu Tipos Psicológicos) que O Diabo a tentar os monges em suas provações ascéticas é nada mais nada menos que o próprio inconsciente dos anacoretas. E com isso ele não quer dizer que Satã é "parte" do inconsciente, e sim que o Inconsciente é ele próprio Satã.

Agora, Satã, o Diabo é uma figura complexa, da qual vale destrinchar um par de fios os quais são de uso para fazer sentido dessa afirmação. Os Cristãos fazem hoje o sincretismo da Serpente (do Jardim) com o anjo acusador do judaísmo, Satã, que por algum nó surreal veio a absorver o título antes reservado a Cristo: Estrela da Manhã. A imagem, certamente tributária de Milton, é a de uma estrela caída ao subterrâneo por sua Luz autocêntrica, e com ela seguiram também vários anjos, preferindo habitar o Caos da matéria desprovida de inteligência à viver sob a condução da Vontade celeste.

E assim o Diabo ganha associação com elemento Terra, uma vez que é o único elemento capaz de "resistir" à divina inteligência - aliás, o papel da Terra é durar! Vemos na carta O Mundo, do Tarot, que o Touro (que simboliza a Terra) é o único dos 4 Animais Viventes desprovido de auréola. Já chifres, e patas de bode O Diabo adquire apenas durante a idade média, durante a lenta e constante perseguição às outras religiões (ditas "pagãs"), no que absorve em seu campo semântico as deidades ferais masculinas, associadas aos cultos de fertilidade da terra.

quarta-feira, 2 de março de 2016

A Vida além da Vanguarda



No vídeo acima, um mauricinho INTJ ralha contra a "arte conceitual" e o tanto que ela é incompreensível e desconectada das pessoas e no fim só um disfarce pra artistas objetivamente ruins fingirem de bons enquanto degradam a cultura.

Esse é um sentimento muito disseminado, baseando-se num fenômeno real: o apodrecimento das instituições de nossa civilização desde que perderam suas raízes no mundo da Tradição. Porém a verdade é bem mais complexa que uma simples richa de bons artistas virtuosos x maus experimentalistas - e nesse mundo de excesso de informação, de que vale meia verdade desconectada do contexto?


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

As Razões Profundas da Permanência do Poder

- ou, porque somos tão apegados aos nossos grilhões?

Arte por Pawel Kuczynski

Sejam bem-vindos à pós-modernidade. As Bonecas Trouxas fazem as vezes do Gorila Chorão (de Alan Moore), quando a merda do colapso ecológico atinge o ventilador da consciência pública e o niilismo atinge proporções pop. Uma nova geração de filósofos niilistas conversa pelo Facebook em tweet-aforismos:


Caso encerrado? "Que se exploda a moral". Nada verdadeiramente tem sentido... (Ou não! Recuar amedrontados ante a ameaça de perder as referências familiares, voltando os olhos à TV ou aos Gifs como um deus de bolso a prover doce esquecimento). Fácil falar, difícil é vivê-lo na prática. Afinal se por um lado eu piso em formigas como quem não vê nada, quando eu perco um ente querido pra morte , meu coração clama por justiça! do! universo! E o Universo, esse bastardo, mantém o silêncio. Entre o profundo não-se-importar da natureza, e as demandas sentimentais e filosóficas da vida humana, há uma disjunção. A verdade é que aqui questão começou a se colocar; e no espaço que se abre, é finalmente possível pensar a Ética.