domingo, 23 de julho de 2017

O Rei Chegou - 1ª Lunação de Leão (Julho e Agosto de 2017)


"O Rei Chegou, Viva o Rei" Por Jorge Ben (1975)


Hoje de manhã, cerca de 9:45, o Sol e a Lua se encontaram em longitude, encerrando a Lunação anterior, do signo de Câncer, e dando início à um novo mês lunar (lunação), dessa vez no signo de Leão - a casa dourada do Sol. Este ano, em especial, teremos duas lunações seguidas no signo de Leão, das quais a segunda será um eclipse visível de toda a América do Norte.




Sem com isso pretender uma análise completa, gostaria de destacar alguns aspectos marcantes do ciclo que vai se desdobrar de hoje ao longo dos próximos 28 dias (de hoje até 21 de agosto).


1-Sizígia no Ascendente

Sizígia é como chamamos o encontro (em conjunção ou oposição) da Lua e o Sol. No caso, temos a Lua se casando com um Sol nascente no próprio dia e hora do Sol, empoderado pelo ângulo ascendente...

O Sol é o Rei, e Leão é seu palácio. E a Lua, sua Rainha, vem deitar-se em núpcias.

Agora, o que afinal é um Rei?

O Rei é o eixo imóvel da mega-máquina social; seu poder é fazer um rugido ecoar até as beiradas de sua zona de poder. "Simba, um dia tudo isso aqui será seu".

O Rei não trás a paz: ele apenas organiza a barbárie.

Mas não podemos ceder ao cinismo. Esta é apenas a resposta histórica, ou sociológica.

É preciso perguntar também porque é que insistimos em sonhar com Reis, isso há milhares de anos e ao redor do mundo todo.

O que é o Rei para a alma?

O Rei trás a possibilidade da unificação.

Dez mil braços, trabalhando no mesmo sentido, são capazes de fazer mais que um milhão de braços se chocando, perdidos.

Os sacerdotes abraçaram esta chama com cobiça e ingenuidade.

Usar a maior das feras - o Leão - pra fazer a "Palavra de Deus" valer nessa terra, como um rugido.

Ingenuamente isso nos parece ótimo. Ideal. Perfeito.

Assim começa a hubris.

A perfeição não é direito de nós mortais.
A perfeição que não vai jamais existir abaixo da Lua.
A perfeição que, exigida, é uma maldição.
Amaldiçoaram a humanidade, sem o saber.


Sonia Delaunay, "Rhythm Colour No. 1076", 1939



2-Sizígia em aderência à Marte

E de fato um estado se cria por conquista. Não há "ordem social" se não houverem armas. Nem a "ordem social" primitiva, despojada de Estado, sobrevive sem unhas e dentes que impõem uma tradição patriarcal. Mas é o Estado, mais que tudo, que consiste numa arquitetura de violência.

No mapa da lunação pra Brasília (1), Marte governa a 4 e a 9. A 4 é a terra natal, o chão por onde pisamos - pro estado moderno, é a "Nação". A 9 é a igreja, e as grandes instituições de gravidade social. A universidade, os saberes superiores, as leis, juizes e clérigos. Simbolicamente, a 4 é o mundo subterrâneo, e a 9, a casa de Deus.

Conforme o Sol se aproxima de Marte, ele o consome. É o fim de um ciclo que dura mais ou menos dois anos: o ciclo de nascimento e morte de Marte. Até os planetas tem de morrer.

O Sol e Marte, juntos, fazem um calor dos diabos. Como a bigorna do inferno por onde se forja um destino.

Deus, e o que veio debaixo da Terra, se encontram no espaço de uma vida. Uma vida é o choque entre mundos extremamente diferentes.

Neste choque Deus é como um Leão correndo para o abate. A terra é como um Escorpião de cauda erguida. Fantasiamos com o encontro perfeito. A perfeição não existe sob o firmamento da Lua.

Uma vida humana é essa fusão do Pensamento Divino com a matéria, como uma estrela a fulgir no universo. A forja divina é uma forja de almas. Não à toa, os alquimistas buscaram nos metais uma metáfora que exprimisse as prodigiosas transformações da Alma.

Marte é a capacidade de separação. Separar, por mais que seja às vezes doloroso, é uma missão para nós humanos, que precisamos encontrar a nós mesmos tendo surgido de tão intensa co-fusão.


3-Venus em Gêmeos aplica oposição à Saturno em Sagitário

Saturno, o inimigo do Sol, está em Sagitário, signo de fogo mutável como uma brasa capaz de conservar o poder da chama por longos intervalos. Saturno, o senhor do tempo, guarda aqui um segredo: as histórias através dos quais Um pode se tornar Muitos.

Venus está em Gêmeos - o trabalho conjunto onde fundam-se as cidades. Muitos que se tornam um só.

Para resolver um quebra-cabeça em grupo, é necessário primeiro chegar a um acordo sobre quais são as regras.

E não só a nível coletivo esse problema se coloca: nós, nosso desejo, é uma multiplicidade, tão pouco confiável como uma brasa a espalhar pela grama seca. A cada momento a chama lambe uma direção diferente, como se pode erguer um império, vencer uma guerra ou mesmo cozinhar tijolos com um fogo superficial e sem controle?

Refina teu êxtase.

4-Mercúrio, que dispõe de Venus, aplica-se ao Nodo Norte

O Nodo Norte tem a virtude de aumentar aquele com o qual se encontra. Mercúrio em Leão é o seu rugido, a trombeta das ordens oficiais. Cabe a nós dar um sentido coerente pras fagulhas que começam a chover.

Sonia Delaynay, Electric Prisms (1914)

(1) O Corpo de Astrologia Tradicional utilizou São Paulo para este cálculo da lunação. O raciocínio, que provavelmente tem mais lastro na tradição do que a minha escolha intuitiva por Brasília, é de que a independência do Brasil tem seu maior marco no Grito do Ipiranga, ocorrido em São Paulo, e portanto este é o "mapa natal" do Brasil que temos de usar de referência. Mas esta lunação em São Paulo tem seu Ascendente perigosamente próximo da divisa entre Câncer e Leão (uma distância de 20 minutos), e como tenho a severa impressão de que as coordenadas do Grito do Ipiranga não são exatamente os 46º38' W 23º32' S padronizados de São Paulo, achei por bem manter a referência como Brasília - até porque não chega a serem idéias de todo sem base na lógica da astrologia tomar a cidade capital como referência, ou mesmo tomar a Sizígia como um ascendente e delinear à partir daí.

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