O ano virou, mas demorou pra começar. Isso acontece as vezes. Fevereiro está aí, tenho certeza que você nem viu (eu não vi). É porque o mês foi acabando aos pouquinhos. Janeiro de chumbo, com 4 ou 5 planetas na casa de Saturno. Janeiro-caracol, casco de tartaruga, resistente e determinado. Começou pesado, com geral em Capricórnio, o signo mais denso do zodíaco; terminou com a magia de Aquário que (ainda de Saturno) sutiliza, abstrai - mas sem contudo libertar. Tudo isso ajuda a dar forma, estruturar, delimitar; se não aproveitaram ainda a oportunidade, aproveita que dá tempo, ainda mais agora com Mercúrio em Aquário, senhor dos organogramas, Mercúrio-bibliotecário.
Mas só de peso e responsa não se vive a vida, e Graças a Deusa o planeta Vênus foi o primeiro a se libertar: dia 14 se jogou em Peixes, a piscina onde encontra sua exaltação. Jubilem, jubilem todos os seres! O propósito da vida é celebrar a própria vida, que é o próprio corpo da Deusa! Cada minuto não utilizado em trabalho deve ser dedicado a celebração, mas existem muitas formas de celebrar - refine seu êxtase! Hoje a Lua vai de encontro a Vênus. Peixes é o templo e trono de Afrodite, onde os amores da terra e do céu descobrem o que tem em comum, onde o instinto se revela saudade de Deus, a sedução o método pelo qual as estrelas capturam a nossa atenção.
No domingo agora Vênus deixou pra trás a quadratura com Marte, que tirava tributo dos amores e cobrava a conta na forma de guerra. "Uma arte nacional e imperativa", reclamou o auto-proclamado guerreiro da fé - empossado no governo. Mas tu não mexa com Vênus exaltada não! - que nós não somos peças na sua engenharia social. Sim, nós artistas temos a contribuir para a cultura - mas não para a nação, a nação é quem saqueou a cultura, a nação é inimiga da Arte. Nietzsche: "No lugar onde ainda existe um povo, este não tolera o Estado e odeia-o como um mau-olhado, como um pecado contra os costumes e o direito".
Vênus segue sitiada entre os raios dos maléficos até o começo da semana que vem, já que agora está entre Marte e Saturno. A conquista de um novo horizonte trás também novas responsabilidades. E se tem algo que Vênus detesta é responsabilidade, mas como o céu é redondo até os apaixonados tem que botar os pés na terra, uma dosinha por vez - se quiserem habitar um amor durável.
Na terça-feira Marte e Júpiter se encontram por antiscia. Marte é guerra, Júpiter é paz. A guerra continua mesmo em tempos de paz, por meios subterrâneos. Na quarta-feira a Lua chega em Áries e a semana acorda, assustada. Lua quadrando Júpiter: os despreparados vão ter de se resolver na correria. Na quinta a energia geral é mais frustrante: a Lua quadra Saturno, com mútua rejeição, mas o trígono com Marte sustenta a coragem de encarar os bichos que o dia possa soltar. Sexta a noite tem a Lua em Touro, e lá ela fica até no domingo: gente, dê graças aos Deuses pra cada fim de semana que a Lua se encontra em Touro, não há descanso melhor no zodíaco, é possível descansar até em movimento, mas o movimento é sexy, é no passinho do quadrúpede, ruminante com um bom gado de roça. É bom chegar preparado, separem os bons queijos, bons vinhos, boas ervas, lençóis limpos e a luz de velas pro final de semana ser top.
Iago Pereira
(imagem: stumpwork britânico, séc. XVII)
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