Terça foi a Lua cheia em Libra. Lua cheia é oposição do Sol com a Lua, quando ficam em pontos opostos do zodíaco. A oposição ao Sol é terrível para todos os planetas, só a Lua consegue se opor a ele sem sofrer - talvez porque é seu momento de maior luz; talvez porque sua luz venha, ela mesma, do Sol.
A Lua cheia polariza o céu; a Lua significa por natureza a contrariedade, ela que é luz e sombra combinadas; e quando chega a seu ápice permite aos céus um contraponto. O Sol no momento se encontra exaltado em Áries, signo de conquistadores e guerreiros. A Lua, portanto, ficou cheia em Libra - o signo oposto. Sempre tem alguém tem juntar os cacos depois da guerra. Seja a guerra justa ou injusta, será necessário mesmo assim: sanar as feridas, acalmar o choro das crianças, trocar os vidros que quebraram, as lajotas da calçada, costurar roupas novas, semear novamente o jardim e cantar o luto dos falecidos. A guerra e suas glórias chama muita atenção (temos incontáveis filmes dedicados a ela); mas o resto todo é igualmente ou até mais necessário, e não ganha muito de nossa atenção. Por isso é bom a Lua ir lá jogar-lhe luz.
Quarta a noite a Lua chega a Escorpião, e é recebida por uma enquadrada dupla dos maléficos. Primeiro Saturno, e então fica sitiada entre os raios dos maléficos até a alta madrugada, quando quadra Marte. Lua quebrada e extremamente traiçoeira, não comece nada de importante nessa noite - nem se envolva no veneno alheio, se puder. E se for a noite de lutar sua guerra faça ao modo do Escorpião e de Marte em Aquário: em segredo - e com paciência.
Quinta a Lua segue em Escorpião, dessa vez indo pra um sextil com Júpiter. Lua e Júpiter em queda, uma chance de paz surge em meio a exaustão dos dois lados. Isso vale pras guerras externas e internas - tudo que eu falo, sempre, vale pra dentro e pra fora, façam esse exercício sempre, de pensar as coisas dos dois lados, pois reza a tábua de esmeralda de Hermes: O que está acima é como o que está abaixo. Então - as vezes aquela disputa interna, que nos quebra por dentro chega amanhã a um limite, não dá mais pra continuar, e aí há surge uma oportunidade de paz de espírito em meio a essa ferida mensal que não fecha (que se chama Lua em Escorpião).
Sexta: últimos momentos da Lua em Escorpião, um trígono com Mercúrio, outro planeta em queda. Organizar o saldo das lutas, aprender até com os erros e humilhações. Não há ninguém no mundo que não jamais tenha provado o gosto da terra, lambido bota, puxado o saco. Podemos ser melhores que isso, mas só depois de admitir que temos um lado baixo: apreciação realista como primeiro passo pra medir um caminho de melhora. Entre cinco e seis da tarde a Lua deixa Escorpião e atinge Sagitário, um alívio, e mais a noite Mercúrio finalmente, graças a Deus, deixa o signo de Peixes; deixa o mar profundo e infinito pra trás em busca do que Áries tem a oferecer: agulhas finitas, pequenas e pontudas - e porém úteis pra costurar um caminho entre os B.O.s do dia a dia.
Sábado a Lua minguante segue em Sagitário, formando trígono com o Sol. O Sol é coeso, constante em seu movimento, e se encontra exaltado - oferecendo com abundância as suas virtudes. Deixe que o falso se dissipe em sua luz, não é preciso escolha, não é preciso esforço: a verdade brilha por si própria. Quando o rei precisa falar, "eu sou o rei! me obedeça!" é porque sua autoridade já se esvaiu. A iluminação espiritual, que tantos buscam, não é questão de adicionar algo que falta à vida, e sim de remover (pela própria clareza da consciência) tudo que embota a percepção da verdade.
Não muito acontece com a Lua no domingo; apenas a noite ela entra em Capricórnio, fechando a semana com notas graves (e uma quadratura com Mercúrio). Capricórnio é a hora de por na prática, e Mercúrio em Áries quer pra ontem, mas calma pra não se desgastar enquanto ainda é domingo a noite...
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Iago Pereira
Imagem: St. Lucy (detalhe), por Francesco del Cossa - 1470
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