Marte está em Peixes desde março - onde quadrou Vênus e o Sol. A quadratura com o Sol teve seu ápice junto a explosão de protestos da morte de George Floyd, nos Estados Unidos; vimos o presidente (Sol) Trump, da nação mais rica e poderosa do planeta (Sol novamente) se enfraquecer a ponto de temer a derrota nas eleições vindouras, o que era inimaginável um mês atrás. Outra manifestação desse trânsito foram os escândalos (Marte) de natureza sexual (Vênus) que estouraram contra famosos (Sol), precisamente quando a dodecatemoria de Vênus transitava na oposição de Marte.
A mútua recepção com Júpiter orientou as ações de Marte em um sentido Jupiteriano: rumo aos direitos civis da população negra, em defesa da democracia ou mesmo a defesa das crianças, todos temas de Júpiter. Júpiter está em Capricórnio, signo de sua queda. Isto significa a fraqueza de seus assuntos - a injustiça contra os negros, as instituições democráticas brasileiras fragilizadas, etc - a que Marte busca reverter pelo meio que conhece: a ruptura, a revolta e a intimidação (considere a postura agressiva do STF durante as últimas semanas).
Marte em Peixes demonstrou a força da ação coletiva, balançando as estruturas de poder: por exemplo, nunca o tema do anti-racismo foi tão forte nos Estados Unidos, se equiparando na opinião pública a importância dada à economia; estátuas de renomados escravagistas foram derrubadas em vários países; a cidade de Minneapolis está considerando desmontar seu departamento de polícia - em busca de soluções alternativas como policiamento comunitário e serviços sociais.
Porém, o planeta em debilidade pode também representar excessos em sua manifestação. Peixes é um signo avesso à medida e à estratégia; como signo de água sua ação é intuitiva e emocional; como em todo signo bi-corpóreo ele representa bandos, multiplicidades: podemos imaginar um cardume de piranha nadando e atacando segundo seus instintos. Parece que a palavra ~estratégia~ soa, pra esse Marte, como um pecado contra sua principal arma - o entusiasmo. Quanto a isso, fico com uma citação com que cruzei recentemente, de Guimarães Rosa: “Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal por principiar.”
Seja como for, Marte está prestes a chegar em Áries, signo de fogo onde tem o seu domicilio. Marte na própria casa representa uma lâmina bem afiada, hábil a ser empregada na guerra.
E que guerra luta Marte em Áries? Bem, serão seis meses de lutas, já que Marte vai retrogradar em Setembro, logo antes de sair de Áries, ficando na própria casa até o ano que vem! Seis meses de muita disposição pra quebrar o pau. Logo mais em Julho já começam as quadraturas, primeiro Mercúrio, trazendo à tona o que ninguém queria falar, mas era preciso; em seguida começa o drama central do segundo semestre, as quadraturas com Saturno em Capricórnio, sendo a primeira no fim de agosto. Marte rebelde em posição inferior vai atacar Saturno, Saturno as velhas estruturas, a prudência conservadora. Ambos em seus próprios domicílios não irão arredar o pé. Não me surpreende se, em meio ao caos na saúde brasileira e o descaso sistemático do governo, quem esteve entocado por meses decida finalmente sair de casa e botar a casa abaixo se necessário. E ao mesmo tempo, ai das instituições já frágeis de nosso país, já com tanta gente armada à direita e sedenta por uma confrontação.
Mas Marte em Áries não se interessa, ele tem fogo nos olhos, ele vai ter o seu momento. São os dias finais do ciclo da terra de 200 anos, essa é a chance de jogar a tralha fora e dar um reboot. A grande questão é qual será o reboot, em que termos será? Essa luta ainda está pra ser travada. Preparem os ânimos, porque o segundo semestre desse ano não será pra brincadeira.
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Iago Pereira
Imagem: Giuseppe Arcimboldo, "Fogo" - 1566
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