sexta-feira, 15 de abril de 2011

Ética de Bando - Parte I

primeira vez que posto aqui desde que o blog foi reinaugurado... e ainda por cima, nem é um texto completo, mas um pedaço de post. peço desculpas desde já aos leitores, mas a paternidade e a academia raramente deixam um tempo livre para outra coisa. assim que der, eu termino.


Introdução


Muito me surpreendeu ler no estatuto de uma associação comunitária de um bairro da cidade indígena de Iauaretê, no município de São Gabriel da Cachoeira (AM), que aquela era uma instituição sem fins lucrativos cujo objetivo era a produção de pessoas e da própria comunidade. O que mais me instigou à reflexão não foi o fato de eles se proporem a isso, mas o quanto nossa própria sociedade – cujo paradigma é a falta – deixa completamente de lado esse próprio aspecto. Quando falamos em produção, em produtividade, se imagina logo maquinarias técnicas, aço, Vale do Rio Doce. Parques não são produtivos, escolas não são produtivas (no máximo reprodutivas, e olha lá), bibliotecas e cerrados não são produtivos. Quando se fala em produção de pessoas, ou se coloca a educação como fator produtivo, é sempre enquanto produção para produção, ou pré-produção, se produzem não pessoas, mas mão de obra; não-pessoas.


sábado, 9 de abril de 2011

A Droga da Proibição


Esse vídeo me marcou não só pela coerência, lucidez e incisividade com a qual a profª. Gilberta Acselrad manobra a questão, mas pelo mero fato de que ela se recusa a responder as perguntas nos termos em que são pautadas. Geralmente, os discursos proibicionistas tanto na mídia quanto na ciência manobram um jargão meio importado das ciências médicas, com um lustre de "objetividade", enquanto valores estão sendo sutilmente veiculados. Por exemplo, logo na introdução à entrevista, a jornalista já solta que a situação do universitário deixa "os estudantes mais suscetíveis à essa vontade de experimentar drogas" - que diabos, onde mais se fala assim? Soa como "mais suscetíveis a contrair gripe". O usuário já é pensado desde o início na posição passiva, negando-lhe discursivamente a capacidade de reflexão, julgamento e de opção. Mas isso é só a ponta do iceberg, pois ao veicular as informações distorcidas e simplesmente inacuradas que as campanhas do tipo "diga não às drogas" veiculam, enquanto ao mesmo tempo se coíbe a pesquisa científica nesse campo, o estado está também cerceando de antemão a mera possibilidade de uma reflexão informada. O próprio termo droga adquiriu o significado tácito de "droga ilegal" na boca do povo, criando o efeito - na atmosfera de desinformação - de que todas as drogas (ilegais) são igualmente perigosas, viciantes e fatais; e, numa inversão que só posso considerar francamente delirante, elas são igualmente perigosas e fatais porque todas são "drogas ilegais", porque recebem a mesma palavra, a mesma designação jurídica, a mesma situação legal. O complemento silencioso é de que "se não fossem iguais, se não fossem perigosas, o estado não as teria proibido e as tratado da mesma forma, né? NÉ?" - pois não é.