Saturno é um mundo em ruínas.
Palácios caindo aos pedaços, pilastras de mármore em meio aos sapos, prédios abandonados cheios de poças no chão.
É a hecatombe ecológica,
a terra água e ar envenenados, pilhas de entulho, resto enferrujado de ferrari e embalagens de batata-frita, polaróides apagadas e tevês espatifadas.
Saturno é o cérebro frito da máquina,
o registro inflexível do algoritmo, o controle 24 horas, estado policial, a agência de espionagem, o triunfo do asfalto sobre o mato, da burocracia sobre a criatividade, da crítica sobre a fé.
Saturno é um mundo caduco,
dogmático, fora-de-moda, agarrado a um ideal de um passado que nunca foi. É o castelo do vampiro, a masmorra dos detentos e o cemitério dos pagãos.
É a sequência incessante das gerações que dissolve o sentido individual: um garoto ama uma garota, o componente sumamente impessoal da paixão - uma mesma matéria de todas as canções de amor.
Saturno é um espantalho,
um gato preto, é a terra onde o sangue verteu, a colheita maldita, as folhas secas do outono. A tampa do bueiro, a vidraria do laboratório, um livro em língua que ninguém mais lê. Saturno é o robô, o zumbi e a linha de montagem.
É o tempo jogado fora.
A perdição no bar e nos domingos chatos vendo tevê, rolando página de facebook. Saturno é a cracolândia. É rumar pro precipício e não conseguir parar. É a pedra que carrego no peito, o ovo nas as costas, a corcunda. É uma decisão feita de chumbo. Um ressentimento que jurou não se esgotar.
Saturno é o osso que restará na terra, teimando em existir.
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