domingo, 1 de dezembro de 2019

Bacurau é o Get Out! Brasileiro


[não contém grandes spoilers]



Ontem finalmente assisti Bacurau e posso dizer que Iago está agraciado. Um filme que em 15 minutos consegue envolver velório de avozinha querida no interior do nordeste, disco voador e psicotrópicos certamente está na pista certa. Há um ar Jodorowskiano em tudo, desde a abertura com o planeta visto de cima, desde a segunda cena - quando o caminhão de água atropela vários caixões caídos na estrada.

O filme dá uma guinada quando somos apresentados aos antagonistas, e em certa medida a cidade Bacurau sai de cena, o que me incomodou pois nesse ponto eu tinha criado a expectativa de que ia descobrir tudo sobre a cidadezinha e seu povo. Ao fim do filme a cidade segue misteriosa, o que é uma solução fácil: permite que (dentro de certos contornos) cada um projete o que quer ver.

Em contrapartida o filme se torna uma estranha sobreposição, de um lado um filme americano de armas e tiros e carro que explode, do outro a vida como a gente conhece no Brasil interiorano. Numa cena brilhante um personagem recebe o típico vilão americano com suco de caju e caldo de galinha numa mesa. Isso tudo sem degenerar em mera caricatura, pelo contrário há um carinho palpável da produção pela cidade de Bacurau e seus habitantes. A cidade realmente convence, e isso sustenta o contraste que é pilar do filme. A interpolação de gêneros coloca esse filme firmemente em uma dimensão pós-moderna, e o filme funciona como um comentário em dois planos: um no conteúdo da história, e outro na forma como é contada.

Um filme verdadeiramente tropicalista, mixando passado e futuro, urbano e interiorano, nacional e internacional. Bacurau se passa no futuro mas é sobre o passado, verdadeiramente; sobre lembrar o nosso passado e quanta força temos enterrada. Ali num simples museuzinho de cidade histórica estão sepultados rebeldes, bandidos, cangaceiros. Desprovidos dessa força, ou talvez, com essa força desprovida de foco - o mundo não se torna menos violento, mas pelo contrário: a violência continua a nos rondar de todos os lados - nos programas de polícia na TV, no fascínio do crime organizado, no culto fascista-miliciano à morte. Desprovidos de dentes e garras apenas nos tornamos presa, submissos aos caprichos de quem desaprendeu a amar.

Estamos sitiados. Estamos sendo invadidos. Eles tem o mundo nas mãos, estão aqui e não estão pois o poder é global. Nossas redes de comunicação - que de certa forma nos empoderaram - pertencem também a eles. E pode chegar o momento onde vão nos riscar do mapa. Bacurau decidiu virar o jogo - gostaria de saber se posso contar também com o resto do Brasil...

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Rota 32 Podcast - Ep. 2, Mapa errado funciona?



Dessa vez chamei o Simão Cortês, estudante de astrologia, acadêmico extraordinaire e manjão de platonismo, pra gente conversar sobre dimensões filosóficas da astrologia.

Nosso ponto de partida foi uma provocação que ele tinha feito: que mesmo um mapa com a hora de nascimento errado pode funcionar, se o astrólogo acreditar que o mapa tá certo e seguir os procedimentos "rituais" de leitura de mapa fielmente.

A conversa se deu com Mercúrio aflito em Peixes então peço desculpas por alguns defeitos no áudio e pela minha abordagem devaneante. Por sorte o Simão é de uma lucidez incrível e conseguimos chegar em algumas idéias bem interessantes mais pro final, com dois modelos filosóficos diferentes que podem explicar porque astrologia funciona, e mais ainda, que podem ser testados na prática!

A boa ou a má notícia: são 2 horas e pouco de conversa. (Mercúrio em Peixes é famoso por não ter medida).

O áudio está disponível pra ouvir ou pra download, basta clicar aqui

Iago Pereira
(imagem: Istvan Orosz, "The Window Paradox")

quinta-feira, 27 de junho de 2019

Astrologia, Virtude e os 4 Elementos



Um astrólogo é alguém que tem aulas de virtude com os astros.

Em seguida, ele repassa essa virtude ao público: em seus escritos, falas, atitudes e consultas.

A previsão surge por efeito da virtude.

As virtudes que possibilitam a previsão são, entre outras: confiança na técnica, uma mente afiada, escuta ativa, síntese intuitiva, expressão imaginativa.

Podemos comparar essas virtudes aos quatro elementos: