quarta-feira, 12 de junho de 2019

Mundo invertido [nota astrológica]



A Lua está em Libra, na via combusta. Humores em brasa no dia que o comércio chamou "dos namorados".

A via combusta é uma terra arrasada, onde se encontram Libra e Escorpião. Signos sob regência de planetas opostos. Libra é de Vênus, deusa do amor; Escorpião de Marte, que governa a guerra.

Junção complicada, e no entanto, tão íntima da maioria de nós: as relações mais próximas são as mais vulneráveis pra ação de nossa sombra. E pro amor virar ódio, é um pulo... Ao contrário do que costuma se pensar, o contrário do amor não é o ódio, e sim a indiferença.


A Lua, nessa manhã, completou um trino com o Sol. Libra, onde está a Lua, é o signo onde o Sol tem sua queda. No Thema Mundi, o mapa natal do universo, Libra ocupa a posição no fundo da terra. No hemisfério norte, onde a astrologia surgiu, o Sol entra em Libra no início do outono, onde a duração dos dias diminui. Mas e no hemisfério sul? Aqui, Libra é a primavera. Gosto de pensar que, quando o Sol "desce" pra sua queda, ele fica mais pertinho da gente. O hemisfério sul é o mundo invertido. E melhor assim...

Lembrei agora do mito de Dânae. Seu pai, o Rei de Argos, tinha a trancado em uma torre de bronze, temendo a profecia de que seu neto viria a matá-lo. Eis que Zeus se enamorou de Dânae, aprisionada, e desceu sobre ela como uma chuva de ouro... No que ela ficou grávida de Perseu, um grande herói das lendas. (e selou o destino do rei de Argos)

A moral da história? As vezes é no mais fundo buraco onde a luz brilha mais forte. Como isso é possível, não é fácil de entender, muito menos de explicar. A não ser que, como eu, vocês tenham também nascido no mundo invertido, onde malandro é o Rei, e onde a queda do Sol é ganhar em luz...

Iago Pereira
(arte: Jan Gossaert Mabuse, 1527)

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