segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Contra-atacar [Céu da semana - 18 a 24 de Novembro de 2019]



Começa então com a Lua em Leão mais uma semana, que sem dúvida ocupa o ponto alto do mês.

Três eventos marcam esta semana; o primeiro deles é a entrada de Marte em Escorpião, na manhã desta terça-feira. Termina finalmente o longo suplício do planeta que governa o ferro, fogo e a guerra, que passou os últimos meses combusto, depois exilado e quadrando Saturno. Agora de volta a sua casa, Escorpião, as dificuldades e labutas a que foi submetido se tornam instrumentos de sua força. Ele aprendeu o cálculo e a diplomacia; ele aprendeu a paciência. Marte em dignidade não deixa de ser destrutivo, mas consegue direcionar sua força. Se há alguma barreira que há meses não consegue ultrapassar, respire fundo - e organize uma última investida (mesmo que não seja mesmo a última, invista com a força de quem vai pela última vez). Escorpião é água fixa, o gotejar constante capaz de furar até mesmo a rocha escura. Marte permanecerá em Escorpião até a virada do ano, mas os primeiros dez dias deste trânsito são os mais afiados, então aproveite-os bem.


Em seguida, na quarta-feira, Mercúrio retoma seu movimento direto. É o momento de sua segunda estação, que os antigos diziam trazer grande força a um planeta. Mercúrio estaciona em um ponto muito especial de Escorpião, conjunto as duas estrelas mais brilhantes e mais benéficas dessa região do céu: Acrux, a alfa do Cruzeiro do Sul, e Alphecca, a alfa da Coroa do Norte. Duas estrelas que só são visíveis nos respectivos hemisférios, a cruz e a coroa. Qual é a cruz que os mares do sul carregam? Carregam o peso da coroa do norte. "Esta ciudad la propriedad del señor matanza / Nas veias abertas da América latina / Tem fogo cruzado queimando nas esquinas / Um golpe de estado ao som da carabina". E se o Escorpião nos chama não mais a chorar, mas sim a "contra-atacar, contra-atacar", não esqueçamos também que os céus brilham mais que a terra, e cantam mais que nossas dores. A Corona Borealis é uma coroa de flores, o Cruzeiro as patas do generoso centauro. Há uma luz que nunca cessa de brilhar mesmo em meio as colunas de fumaça, e esse país em que estamos, chamado Terra da Santa Cruz em homenagem à constelação - é verdadeiramente uma encruzilhada, a dúvida de por onde seguir, o choque de raças e povos e histórias - um experimento em aberto. Mercúrio, o grande experimentador, estaciona ao pé da cruz e contempla os braços erguidos como pontos cardeais. Aonde na sua vida o céu e a terra se cruzam? Aonde o passado se torna futuro? Ali mesmo onde desisti, acuado, amedrontado, ali mesmo existe uma força misteriosa, uma solidariedade que vai de norte a sul, leste a oeste, uma comunidade de sangue com toda a vida e a longa história da vida e seus cadáveres de boca tapada.

Na sexta-feira o Sol deixa Escorpião e chega a Sagitário. Mais uma estação começa a fraquejar, em breve é verão no mar do sul, em breve os filhos do carnaval comemoram aniversário. A balança volta a pender rumo aos benéficos, uma última festa com Júpiter ainda em Sagitário, no momento com Vênus também, e domingo Júpiter e Vênus se fazem um só. Conjunção que se dá nos termos de Marte, a parte final de Sagitário onde o passo é de galope e as flechas são para a guerra. Preparem-se pra um dezembro seco, soturno, mas preparem-se redescobrindo a alegria de desafiar as chances e ousar a fé e o amor em circunstâncias cada vez mais improváveis.

Iago Pereira
(imagem: capa de "O Futuro não demora", do BaianaSystem)
(para ouvir: "Sulamericano", BaianaSystem)

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