quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

O que não se discute [Céu da semana - 9 a 15 de dezembro de 2019]



Mercúrio entrou em Sagitário nessa segunda-feira. Sagitário é seu exílio, o signo mais distante de uma de suas casas (Gêmeos). Mercúrio, senhor da lógica, fica à deriva quando chega em Sagitário, fusão misteriosa de deus e bicho, com patas de cavalo, asas e torso humano, e uma flecha fundindo tudo isso em um único feixe. Pra se mover em Sagitário é preciso saltar, de outra forma nos enredaríamos em uma trama infindável de afirmativas, réplicas e tréplicas, onde o essencial desaparece na forma. A intuição é quem guia este Mercúrio, e seus projetos são do tamanho do mundo, eles tem um centro e uma margem - o problema é chegar daqui até lá, mirando alto demais ou baixo demais de ambas as formas erramos o alvo.

Na terça finalmente ocorre o encontro de Vênus com Saturno em Capricórnio, uma mútua recepção entre a Deusa do Amor e o Deus dos Limites. Os desejos ganham forma, os gostos encastelam, as diferenças aparecem, eu aprendo a dizer não, eu aprendo a desconfiar, eu aprendo a temer, eu me fecho para o amor por conta do medo ou eu abraço a fera, encaro a sombra e visto a carapuça. Vênus sitiada entre os raios dos maléficos, o amor tenta nascer frágil em meio ao solo seco, é preciso resistir, é preciso paciência e muito trabalho nas raízes. Trabalho demais que pode até cansar e acabar com a graça, de que serve um amor que é fardo. Mas agora Vênus escapou, a mútua recepção com Saturno continua por mais uns dias e se algo saiu vivo da batalha paciência, pois há de brotar.


Hoje temos a Lua cheia em Gêmeos. Momento de revelação, noite e dia plenos de luz. Cai a ficha de que Júpiter não está mais em Sagitário, protegendo com a dádiva da fé. De repente o maior amigo pode se revelar um inimigo em segredo, aquela "boa vontade" que não salva ninguém do inferno, pelo contrário, só arrasta os outros pra lá também. Quando foi que me doei pra quem não merecia? Com a natureza não se discute, dose errada é tropeço, e tropeço pode ser queda. Mas não coloquemos a culpa na luz por nos mostrar isso tudo por ter sido pego de surpresa com a cara de bode e o rabo de peixe - o mítico animal do Capricórnio.

Quinta a noite a Lua chega a Câncer, e aí o bicho pega, com uma série de oposições que vão até sábado. Lua na própria casa escorre que nem geléia, o que é bom pra se espremer pra fora do perigo, e algum perigo há. Sexta de madrugada, em particular, temos a Lua sitiada entre os raios de Marte e Saturno. Uma boa noite pra amarrar a festa cedo e voltar pra casa antes de 1:30. Caso contrário, a receita é se manter o máximo possível em movimento, pois se tem algo que a Lua em Câncer faz bem é fluir.

Domingo finalmente temos a Lua em Leão, abrindo com um belo trígono com Mercúrio, que transita então pela estrela brilhante chamada Antares. Leão é bicho bravo, e Antares é o coração da constelação do Escorpião, "Anti-Ares" - a estrela antifa. Como temos Mercúrio exilado e sem aspecto dos benéficos e mesmo do senhor da sua casa, é sensato medir bem a altura do berro e se for pra entrar no ringue, que seja pra vencer a luta ao modo de Escorpião: com um único movimento.

No geral uma semana mais pro difícil, embora não terrível. Quem está sob cronocracia de Vênus - ou seja quem tem em Vênus seu símbolo no céu, nessa fase da vida, nesse ano - tende a sentir uma melhora, mas ainda temos uma grande concentração de planetas em signos noturnos governados pelos maléficos, o que mantém o clima geral um pouco bruto e defensivo. Aliás o clima deve se estender assim até meados de janeiro, embora não sem importantes remanejamentos de força que vamos acompanhando passo a passo nesses textos semanais.

Iago Pereira
(arte: Aleksandra Waliszewska)

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