sexta-feira, 17 de dezembro de 2021

O Amor é um Labirinto [Vênus em Capricórnio de 5 de Novembro de 2021 a 5 de Março de 2022]

 


Vênus se prepara para retrogradar em Capricórnio, onde vai render... Um total de 4 meses! Capricórnio é um signo de terra governado por Saturno, senhor das restrições; um lugar denso, e no entanto de qualidade cardinal, ou seja, de movimentos bruscos e decisivos. A cabra-peixe de Capricórnio gosta de escalar morros, apoiada numa verticalidade impossível para comer aquele matinho desprezado que brota do despenhadeiro.

Creio ter sido Oscar Wilde quem disse que "tudo é sobre sexo, exceto o sexo. Sexo é sobre poder" - o que descreve bem os temas de Vênus tingidos pela significação de Saturno. O amor em sua bruta concretude. Quem está por cima nessa vertical? Nossas paixões, supostamente espontâneas, correm em estruturas bem definidas - classe, raça, gênero e padrões de beleza. Os homens dividiram o mundo entre mulheres para casar e mulheres para serem maltratadas como putas; e estatísticamente, mulheres tendem a casar para cima na hierarquia social - indício do casamento como função de sobrevivência feminina num mundo patriarcal. Inclusive a beleza, ao menos em seu aspecto superficial, é algo que pode ser comprado, de roupas a salão de beleza e cirurgias estéticas. Muitos lamentam hoje os amores líquidos - e fazem vista grossa ao amor carcerário do casamento tradicional. E no entanto, nessa encosta seca ainda brota, e sempre brotou, algo de vivo - que nutria a imaginação de poetas e as cartinhas dos apaixonados.

O amor é posse ou possessão? Entre uma coisa e outra há uma montanha de distância. Somos possuídos pela imagem do ser amado, e assim vulneráveis, feitos cativos pela flecha do cupido - respondemos tornando o ser amado em objeto de nossa posse. O desejo de controle sempre vem em segundo lugar, mas primeiro é o Eros, o grande daimon que mantém o universo amarrado a nossa revelia. Enquanto seres de carne e osso, não há fuga do poder de Eros, mas melhor seria não nos deixar escravizar pelos esqueletos que guardamos no armário do inconsciente (que é pessoal e coletivo).

"(...) é necessário expulsar o bloqueador, ou, ao contrário, 'amar, honrar e servir o demente cada vez que ele vem a tona'? Bloquear, ser bloqueado, não é ainda uma intensidade?" (Deleuze & Guattari).

Seria possível bailar com o controle, torná-lo parte da linguagem do amor? Vejo então sentido dos rituais do BDSM, em seus contratos e sessões formalizadas: atar com algemas e cordas, ordenar e humilhar, causar a dor ou suspendê-la. Em um delicioso paradoxo, quem está no topo se ocupa totalmente de quem está embaixo, possuído pelo Eros que corre no submisso; e quem está por baixo encontra, na entrega, um tipo de libertação, desobrigado da paranóia do controle.

Vênus retrograda em Capricórnio até o fim de Janeiro, quando recupera o movimento direto. Velhos amores ressurgem, seja como fantasmas ou labirintos para se perder. O minotauro é um risco concreto, mas também é concreto o prazer de não saber onde estamos e pra onde vamos, descobrindo um passo de cada vez como é possível se nutrir de um lugar tão improvável.

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Iago Pereira

Imagem: Henri Matisse

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