quinta-feira, 7 de março de 2019

Lunação de Peixes - Março de 2019 [nota astrológica]



Nesta quarta-feira (6 de Março), dia de Mercúrio, ocorreu o início da Lunação de Peixes.

Sol e Lua formaram uma sizígia - uma fusão de seus corpos. O olho do Sol pleno, aberto. O olho da Lua vazio e negro, um oco receptivo. Sizígia em Peixes, signo aquático de Júpiter, deus da Justiça; signo de águas profundas e móveis que dissolvem todas as cascas. O mar, o mar de onde viemos, o mar que carregamos dentro de nós. A vida é ainda oceano.

Sol e Lua sitiados entre os raios dos planetas maléficos. (pelo menos os raios são sextis - o aspecto mais fraco). Um encontro puro em meio à treva escura; uma fuga. O embrião na Nova Luz precisa agora ser protegido em uma grande deriva pelo mar. Bobeia, e a maré te leva a luz embora.

Mercúrio, o Deus que é guia das jornadas está conjunto à Sizígia, porém em queda e retrógrado - sua situação mais lastimosa dos últimos anos. O Deus das medidas gosta de definições, mas como medir um universo infinito? O Deus de passo ágil e resposta pronta aqui está mudo, o que dizer quando tudo é possível?

Mercúrio achou que ia sair de sua humilhação: ele singrou cuidadosamente seu caminho até a beirada da praia, onde surge a areia de Áries. Mas lá, na hora da última braçada, veio uma onda que irá puxá-lo até o fundo. Eu diria "apertem os cintos" - mas aqui não existe segurança. Há apenas fé: a fé protege, e ajuda a lembrar.

Mercúrio irá retrogradar até o fim de Março. Quando estiver freiando e prestes a retomar o movimento direto, terá chegado ao grau vizinho de onde o Sol e a Lua se fundiram. Estará também no grau ao lado do ponto máximo de sua humilhação. Não se chega ao fundo do fundo do mar. Nem tudo se dissolve. Uma semente permanece.

Disse o filósofo: "É necessário guardar o suficiente do organismo para que ele se recomponha a cada aurora; pequenas provisões de significância e de interpretação, é também necessário conservar, inclusive para opô-las a seu próprio sistema, quando as circunstâncias o exigem, quando as coisas, as pessoas, inclusive as situações nos obrigam; e pequenas rações de subjetividade, é preciso conservar suficientemente para poder responder à realidade dominante. Imitem os estratos." (Deleuze e Guattari, Mil Platôs, Vol. III).

Iago Pereira
(imagem: Victor Brauner, 1939)

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