terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Começo do fim [Céu da semana - 2 a 8 de Dezembro de 2019]


Ontem começou uma semana difícil no céu - com o Sol transitando por Antares, o coração do escorpião, uma estrela famosa por sua violência.

E Júpiter entrou em Capricórnio, o signo de sua queda. Capricórnio é signo do bode, de ferro e de chumbo. Este é o Júpiter natal de Karl Marx, na casa 12 de seu mapa - a casa dos inimigos, Júpiter que era seu inimigo: a riqueza que se torna acúmulo e segregação; o falso paraíso na terra vivido pelos exploradores; a caridade superficial e o moralismo que vem bloquear uma mudança mais profunda, uma mudança na estrutura.

Nesse mesmo dia fomos recebidos por relatos de atos horrendos da polícia na favela de Paraisópolis - induzindo o pânico, agredindo a esmo, impedindo o socorro, tripudiando, e enquanto isso uma parte do povo aplaude como porcos ensandecidos. 9 adolescentes morreram pisoteados, e não sabemos quantos mais saíram feridos e humilhados.

O ano se aproxima de seu encerramento, um ano bizarro de águas manchadas com lama e petróleo, precarização de direitos e ascensão ao poder dos piores entre os nossos. E se com Júpiter em Sagitário tivemos isso tudo, faz sentido temer o ano vindouro - onde vamos poder contar muito pouco com a ajuda do grande planeta benéfico. Mas calma que ainda vem a temporada de eclipses em dezembro-janeiro, pra fechar este ato e abrir o próximo. Em termos astrológico este é o fim do fim de uma era de 200 anos, onde Júpiter e Saturno vão mudar seus encontros dos signos de terra pros signos de ar. Os finais, na astrologia e na história, raramente são fáceis, e 2020 em grande medida é isso, a ruína e o túmulo de um mundo cuja validade já venceu. Cabe gravar um bom epitáfio e começar a arejar as idéias pro que vem lá.


Mas de volta à semana; terça-feira, hoje, outro aperto - enquanto Vênus cruza o nodo sul, também chamado de Cauda do Dragão - um ponto derivado do trânsito da Lua e cujo efeito é a diminuição de quem lhe atravessa. Enquanto isso, nesta mesma terça-feira a Lua transita em Peixes e vai de encontro a Vênus, chamando toda a atenção pra seus assuntos (como amor, beleza e as mulheres). Vênus está em Capricórnio, que já não é um signo muito romântico, e o nodo Sul age como um ralo deixando exposto o osso por trás da doçura e do prazer. Vênus suja de lama, Vênus sem equilíbrio. Curiosamente, esta conjunção coincide com o sextil de Vênus com Marte, aspecto que tem o poder de amenizar a violência de Marte em Escorpião. Talvez uma abordagem mais seca aos amores seja, nesse momento, uma forma de impedir que se acumule veneno pras brigas de amanhã.

Na quarta-feira a Lua ainda em Peixes deixa os benéficos e faz um trígono com Mercúrio, um aspecto bom que no entanto é marcado por mútua rejeição. A cabeça e o peito se buscam, mas podem se assustar quando se encontrarem! Melhor não dar muita bola pra eventuais desentendimentos. Na quinta a Lua em Áries explode com tudo, louca pra seguir em frente, e quadra Júpiter durante a tarde: o risco é querer fazer demais e perder a medida. Na sexta a Lua passa o dia se aproximando de Vênus, em um aspecto difícil e com mútua rejeição, o que pode despertar sentimentos de inadequação - e tentativas desastradas de compensar a insegurança com agrados excessivos. Mais pra noite, uma piora: Lua quadrando com Saturno amargando os passeios noturnos com frustrações, desistências e desconfianças.

No sábado não acontece muita coisa - a Lua passa o dia fora de curso. Enquanto isso, Vênus vai chegando a Vega, a alfa da Lira, uma estrela com a qual compartilha uma natureza afim, e pela qual transita até segunda. Planetas com estrelas que lhe são afins ganham muita força, mais ainda, durabilidade. Também no domingo a Lua entra em Touro, a casa de Vênus, e encontra os planetas benéficos com bom aspecto, enquanto se opõe horrivelmente a Marte em Escorpião. Do melhor ao pior ao melhor de novo, com a solidez do Touro que absorve as pancadas, rumina a boa comida e finca as raízes no chão, e Vênus com a Lira colada em Saturno toca sua canção triste de luto, memória e resiliência. E assim vamos ninando esse ano que chega ao fim, essa era que chega ao fim, pois quem se abre pro final de peito aberto ganha de brinde um começo...

Iago Pereira
(arte: Graciela Iturbide, "Mujer Ángel, Desierto de Sonora, México" - 1979)

Nenhum comentário:

Postar um comentário