terça-feira, 17 de dezembro de 2019
De cavernas e suas saídas [Céu da semana - 16 a 22 de Dezembro de 2019]
Três eventos marcam essa semana.
O primeiro deles é o sextil de Saturno e Marte, que se completa na quinta-feira, mas que se faz sentir já na quarta, por causa da Lua. O sextil é um aspecto harmônico; o que quer dizer que a luz de ambos os planetas é "afinada" uma com a outra. Marte e Saturno são os chamados planetas maléficos, pois tratam das coisas duras. Chegou a hora de vestir a armadura, o escudo, afiar a espada e marchar em frente pra 2020. As forças estão congregadas em Capricórnio, signo de terra móvel que dota seus nativos de ambição e método. Marte em Escorpião contribuiu com estabilidade, um objetivo fixo para os passos, a paciência para lutar toda uma vida se necessário. Os maléficos seguem predominando em sua influência nesse fim de ano, mas como estão ambos em seus próprios domicílios, sofremos um pouco com o clima duro, implacável, mas também temos chance de definir limites, lutar pelo que é nosso, lutar pra se proteger, dizer NÃO para aquilo que diminui a vida.
Em seguida, Vênus deixa Capricórnio e atinge Aquário, na sexta. Com a Lua então em Libra, casa de Vênus, a mudança será bastante palpável. Capricórnio, onde Vênus passou as últimas semanas, é um signo enigmático, e viemos portanto montando nossos amores como quebra-cabeças. Mas eis que sempre sobrava um buraco, uma parte móvel vazia, peça faltando; em Aquário será possível habitar o próprio vazio. Eis que agora não é o vazio que se move, nunca foi - e sim tudo que girou ao seu ao redor! E o desafio é fazer caber um amor totalmente outro, uma arte totalmente outra, num mundo que odeia a incerteza e a descoberta. Vênus vai passar a virada em Aquário, e fica lá até o terço final de janeiro.
Finalmente, e mais importante - temos a entrada do Sol em Capricórnio no domingo, que corresponde ao solstício de verão aqui no hemisfério sul. O Sol entra dentro da caverna, iluminando-a; o Sol acende a tocha do rei do submundo. Mas o hemisfério sul é essa caverna, e aqui os dias de Capricórnio são mais claros. Se lá em cima eles podem simplesmente dar descarga e se livrar da parte feia, é aqui que ela vem parar. Certo, é uma bosta, uma grande bosta pra falar verdade, mas sem essa bosta não se fecha o ciclo da vida, não se desenha um mapa, então os privilegiados estão fadados a correr em círculos por sua própria cegueira. E você trate de olhar bem sua parte feia, especialmente, a parte feia que se disfarça de boa, os privilégios imerecidos - para quando a luz do Sol chegar você não se agarrar no que tá pegando fogo. Mas mais sobre isso na semana que vem.
Quanto a Lua, tem um trânsito razoável em Virgem na terça e na quarta. Com seu regente Mercúrio andando no signo de seu exílio podem surgir algumas dificuldades, especialmente hoje, terça-feira, onde a Lua quadra Mercúrio: quando os problemas são muito grandes não dá pra resolvê-los parte por parte, e sim é preciso começar do todo, rever o sentido do todo. A partir daí as peças que estiverem sobrando podem sumir naturalmente, e o que resta dá pra gerenciar melhor.
Quinta e sexta vemos a Lua em Libra. O foco se desloca da função pra fruição, de início dando parto a grandes expectativas, conforme a Lua quadra Júpiter; mas logo entra na parte de Libra que aflige os ânimos, a via combusta, e enfrenta um aspecto duro de Saturno. A tarde de sexta pode vir com certo feeling de melancolia, de que a vida não proveu tudo aquilo que prometia.
E então no sábado a Lua chega em Escorpião. Passa a tarde entre os aspectos dos benéficos, um bom momento pra não fazer nenhum movimento e simplesmente usufruir do que estiver a mão. É o melhor que tem nesse fim de semana, ao menos no que tange a Lua. No domingo temos o solstício e a Lua sob forte influência de Marte. Se o dia mais longo do ano revelar monstros, a escolha é sua ao empunhar a espada. Não vou arrogar ter a resposta pras escolhas difíceis, escolhas que eu mesmo nunca tive de enfrentar. Mas me sinto tentado a lembrar que no fim não é tarefa nossa julgar nada, ninguém, a não ser tendo em vista a própria proteção e a proteção dos outros. De resto, melhor confiar o julgamento a Deus, ou à alquimia do tempo, que é Deus agindo na natureza, Deus enquanto natureza. Não lamente o abismo em que caímos, pois verdadeiramente vivemos todos na caverna, somos nós próprios a caverna, o monstro da caverna e também a sua saída.
Iago Pereira
(arte: "Satan", Nicholas Kalmakoff - 1923)
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